Mães de Maio: o luto se perpetua

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Durante a semana do Dia das Mães em 2006, 493 paulistas foram mortos por arma de fogo e quatro ainda se encontram desaparecidos. No dia 15 de maio, 117 corpos deram entrada nos IMLs (Instituto Médico Legal). No dia seguinte, foram mais 89 óbitos registrados, em razão de ferimentos por arma de fogo. Nos boletins de ocorrência, a ‘resistência seguida de morte’ levantou as suspeitas do Poder Público.

Após relacionarem as mortes ao Primeiro Comando da Capital (PCC), o Governo de São Paulo teve que voltar atrás. O Observatório das Violências Políciais atribuíram 33 dos Crimes de Maio à ROTA e outros 161 aos policiais da Força Tática. Isso não significa que todos os jovens são mortos por policiais, sequer que todos os policiais são corruptos ou assassinos.

Da mesma forma, não significa que as famílias que perderam os filhos não têm o direito de denunciar os crimes. Após receber a notícia da morte de seu fi lho, Débora Maria entrou em depressão por quase dois meses. Não entendia porque o rapaz de 29 anos, trabalhador e pai há então 3 anos, perdeu a vida por conta de uma arma.

Então Débora afirma ter sentido a presença de Rogério: “Mãe, se levanta! Seja forte!” No dia seguinte, foi à procura de outras mulheres que também perderam seus fi lhos. Ao entrarem em contato com o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (CONDEPE-SP), depararam-se com um livro de registro dos ‘crimes de maio’.

De maneira organizada, Débora e outras mulheres em Santos que antes velaram pelos seus filhos, agora são o Movimento Mães de Maio. Desde então buscam o desarquivamento e a federalização dos crimes, já que todas as investigações foram há anos encerradas. Apenas se o Governo Federal abraçar esta causa, as centenas de casos de assassinatos em maio de 2006 poderão ser devidamente julgados.

No mês passado, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência (SDH) afirmou ter feito requerimentos para a reabertura dos casos. Segundo a ministra Maria do Rosário, “Já agendamos uma reunião com a Procuradoria-Geral da República e vamos intensificar o contato com as autoridades de São Paulo. Esses crimes não podem ser investigados separadamente. Até porque crimes semelhantes a estes ainda continuam ocorrendo na Baixada Santista, desta vez, praticados por facções criminosas que atuam na região.”

Abril sangrento. Em abril de 2010, mais uma chacina: 22 pessoas foram mortas na Região – jovens na maior parte. Foram 23 policiais presos administrativamente como suspeitos de integrar um grupo de extermínio.

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